Fiz o serviço militar obrigatório na Aeronáutica durante o ano de 1992, e posso dizer sem hesitar, que foi uma experiência inesquecível. Guardo na lembrança muitas aventuras e estórias engraçadas que vivi como soldado.
Eu me lembro que estava de serviço naquele dia, e o sargento da minha seção me convidou para a festa de aniversário de sua filha que completava quatro anos de idade.
- Mas eu estou de plantão hoje, sargento! Não posso sair do batalhão para ir até a vila dos sargentos!"
E o sargento Beretta, num tom de travessura respondeu:
- E daí? Você é um cara "safo", Pena. Sei que vai dar um jeito.
"Safo", é uma expressão usada entre os militares, que significa 'esperto', 'que sabe se virar'.
Bem, eu tinha que dar um jeito de ir, afinal, não queria perder a festa.
Durante o dia, consegui emprestado uma bicicleta, e pensei no meu "plano de fuga".
Só pra entenderem o meu problema, por volta das 20:00h eu deveria marcar na sala da guarda, o horário que eu faria plantão na madrugada. O plantão na sala da guarda começava às dez da noite e terminava às seis da manhã; um dos militares de serviço: o armeiro (eu), o corneteiro e o cabo de serviço, deveriam revezar por duas horas acordados e alertas (quem pegasse o primeiro horário, ficaria com o último plantão também).
Por volta das sete horas da noite, vesti o uniforme de educação física, enfiei na minha bolsa uma "roupa de festa", e parti de bicicleta para a vila dos sargentos, onde morava o sargento Beretta.
Ao passar pelo portão Sul da AFA, fiz uma parada para trocar de roupa (isso só foi possível porque os soldados de serviço eram da minha turma!) e depois segui por uma trilha no meio da mata que existe na cabeceira de uma das pistas de decolagem. O trajeto todo tem aproximadamente uns oito quilômetros.
Quando a festa estava ficando "boa", me lembrei que precisava assinalar o horário de meu plantão na sala da guarda. Pedi licença ao sargento e fiz a maratona de volta até o batalhão (precisei trocar de roupa de novo!).
- Ohhh Armeiro!! Onde você estava? Procurei por você a horas, pois não veio assinalar o seu horário!!
Só pra registrar, já era quase dez da noite!
Dei uma desculpa qualquer (e colou!), verifiquei que havia sobrado pra mim o horário entre duas e quatro da madruga (beleza... dá tempo de curtir mais um pouco da festa!); e segui novamente para a vila dos sargentos. Outra maratona...
Cheguei no horário para o serviço, mas sem condições de falar uma palavra sequer sem enrolar a língua.
Ao entrar na sala da guarda, respondi com um aceno e um grunhido ao cumprimento do sargento que ficaria comigo durante o plantão, e segui direto para a minha mesa (fazendo um esforço gigantesco pra não cambalear e denunciar meu estado de porre).
Por sorte, o sargento daquele plantão não era de muita conversa (coisa não muito comum) e ele se recostou na cadeira pra tirar um 'cochilo' (belo plantão!!); me equilibrei na cadeira e passei duas horas ali, quietinho, cochilando de vez em quando, até o plantão acabar.
Hoje dou boas risadas desse 'episódio', mas na época, eu poderia ter pego uma tremenda punição. Hahahaha....
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